A chegar ao fim, a campanha eleitoral para as eleições regionais demonstrou que os partidos políticos, grosso modo, olham para o arquipélago de forma semelhante: o modelo de desenvolvimento está definido, logo, as propostas de governação variam na perspectiva do alvo e não na perspectiva de base.
Quer isto dizer – e o que se diz resulta, meio por meio, da observação empírica e de alguns factos – que a Região continuará a avançar no tempo sem grandes alterações.
Partido a partido, percebe-se desta pré-campanha e campanha eleitorais que o espectro político insular se divide em três atitudes: o partido que governa; o que acha que devia governar; e os que, sabendo que não podem governar, apenas querem ser uma voz no parlamento insular.
De tudo o que foi dito, proposto, criticado e anunciado, ficam algumas impressões:
- O PS é cada vez mais Carlos César. A gestão dos dinheiros que a Região tem vindo a ganhar é a mais-valia de um Partido Socialista personificado no líder, sem grande capacidade de separação entre Executivo, Grupo Parlamentar e Partido. Tudo se confunde. Aliás, essa parece ser uma das tónicas dominantes do sistema político açoriano: o presidente do Governo Regional é o centro da actividade política. César sabe disso e explora essa realidade com mestria. Curioso é ter-se afastado, embora não totalmente, na campanha de rua. Escrevemos “curioso”, mas é perceptível que César sabe que não precisa de ir à rua para garantir o voto dos açorianos – a falta de uma alternativa credível e credibilizada junto do eleitorado dá-lhe essa certeza.
- É esse o maior problema do PSD. Os lideres do partido – erradamente em nossa opinião – estão convictos que devem ser Governo, porque a alternância na Região é algo natural. Ora, essa mensagem não convence o eleitorado. O erro do PSD desde que deixou a governação regional é não ter-se capacitado que preciso assumir-se como oposição para se credibilizar junto dos açorianos como alternativa governativa. Alternativa e não o filho primogénito da alternância. Costa Neves, em boa verdade, procurou diferenciar um governo social-democrata dum governo socialista. Mas essa tarefa não se faz em meia dúzia de semanas de campanha eleitoral. O PSD, no Parlamento, nunca foi capaz de ultrapassar as restrições impostas pelos socialistas, logo não ganhou a empatia dos açorianos. Além disso, as cúpulas directivas não têm sido capazes de cativar as bases. O PS, ao invés, foi capaz de reunir à sua volta alguns elementos que vingam junto da população. O PSD, nos últimos anos, perdeu essa capacidade. A par disso, agravado pelo facto de estar na oposição, a renovação interna não tem sido um caminho fácil.
- O CDS-PP é cada vez mais um líder de partido e cada vez menos um partido com um líder. A personificação tem garantido alguma expressividade ao partido junto do eleitorado, sobretudo devido à acção parlamentar de Artur Lima. Este – conscientemente ou não – “especializou-se” num determinado eleitorado e numa determinada mensagem, e enquanto ela render é por aí que o PP vai caminhar. Mas, mesmo antevendo-se o aumento da presença parlamentar, a vida para lá desse momento é uma ameaça ao crescimento do PP como a terceira força partidária no arquipélago.
- A CDU mostrou-se nesta campanha eleitoral sem o fulgor de outros tempos. O período de ausência do parlamento açoriano afectou a imagem do partido, cada vez mais incapaz de vingar junto do eleitorado. Daí a descida das suas votações. Mesmo assim, as sondagens, até ao momento, admitem o seu regresso. Pode estar aí o virar de página na vida de uma força política que, mesmo profundamente marcada ideologicamente, tem mantido um discurso sóbrio e unificador no arquipélago. Curioso, foi ver Aníbal Pires defender apoios para o tecido empresarial. Prova de que os tempos da ideologia podem ter terminado no arquipélago.
- Zuraida Soares é o rosto do Bloco de Esquerda nos Açores. Uma lufada de ar nos discursos partidários regionais. A sua presença no parlamento, ao menos, animaria as reuniões. Fora isso, o BE, nos próximos tempos, dificilmente se solidificará como uma força política de grande expressividade. A não ser que Zuraida Soares chegue ao parlamento açoriano e surpreenda tudo e todos!
- As restantes forças partidárias a concurso nestas Regionais – MPT, PPM e PDA – dão garantias de pluralidade no debate político, mas ainda parecem longe de aceder ao parlamento. Os seus lideres, quiçá convictos dessa realidade, vão apresentando propostas de medidas a implementar no arquipélago. Mas, aparentemente, a convicção de que o parlamento não é alcançável, retira a força que essas propostas podiam ter. Nota de destaque para a luta de Manuel Moniz pelo voto dos invisuais. A bem de uma sociedade açoriana justa, um dos partidos com expressividade parlamentar devia lutar por essa causa.
#vergonha
Há 1 semana
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